quarta-feira, 21 de novembro de 2012

A articaína foi desenvolvida em 1969 por H.
Rusching, mencionada na literatura inicialmente em
1974 por Muschaweck e Rippel e introduzida no
mercado dois anos depois, em 1976, na Alemanha.
Chegou à América do Norte, primeiramente no
Canadá, em 1983 (Donaldson et al., 1987), e foi
aprovada para venda no Reino Unido em 1998. A
articaína (cloridrato éster metílico 4-metil-3-[2-
(propilamino)-propionamido]-2- do ácido tiofenocarboxílico),
cujo peso molecular é 320.84, é
classificada como um anestésico local do grupo
amida, como a lidocaína, a mepivacaína, a prilocaína
e a bupivacaína. Entretanto, diferentemente dos
outros anestésicos do grupo amida ou ester, que
contêm um anel benzênico, a articaína possui um anel
tiofênico, sendo o único anestésico local do grupo
amida que possui um grupo éster (Figura 1)
(Malamed, 2000). Os anestésicos locais do grupo
éster sofrem biotransformação (metabolização ou
desintoxicação) por hidrólise tecidual e plasmática,
por esterases plasmáticas inespecíficas (Oertel et al.,
1997), enquanto o grupo amida sofre uma
biotransformação mais complexa, primeiramente no
fígado, pelas enzimas microssomais hepáticas. Como
a articaína possui uma ligação éster adicional, sua
biotransformação se inicia imediatamente após a
injeção, nos tecidos e no plasma (hidrólise pelas
esterases plasmáticas inespecíficas), como também
no fígado (enzimas microssomais hepáticas), com
352 Victorino et al.
Acta Scientiarum. Health Sciences Maringá, v. 26, n. 2, p. 351-356, 2004
meia vida de 27 minutos, apresentando, dessa forma,
baixa toxicidade (Schertzer, 2000). O ácido
articaínico é o primeiro metabólito encontrado após o
início de sua biotransformação (Figura 2) (Van Oss et
al., 1989; Oertel et al., 1997). Os metabólitos inativos
adicionais têm sido detectados por estudos em
animais (Van Os et al., 1988). A articaína é eliminada
pelos rins. Aproximadamente 5% a 10% são
excretados sem alteração (Vree et al., 1988).
Figura 1. Fórmula estrutural da Articaína.
A articaína possui alta penetração e difusão
tecidual, devido à presença do anel tiofênico, o que
lhe confere maior lipossolubilidade. Sua ligação
plasmática é de 60% a 80% (Food and Drug
Administration, 2004), similar aos outros anestésicos
do grupo amida. A articaína é contra-indicada em
pacientes com metemoglobinemia idiopática ou
congênita, anemia ou insuficiência cardíaca ou
respiratória, semelhantemente à prilocaína. Outra
contra-indicação desse anestésico é para pacientes
com alergia comprovada a medicamentos que
contenha enxofre (sulfas, por exemplo). A articaína é
o único anestésico com essa contra-indicação
(Malamed, 2000).
Figura 2. Fórmula estrutural do Ácido Articaínico.
O mecanismo de ação da articaína é similar aos
dos anestésicos do grupo amida, como a lidocaína, a
mepivacaína, a prilocaína e a bupivacaína,
caracterizando-se pelo bloqueio dos canais de sódio e
de potássio durante a propagação do impulso nervoso,
inibindo reversivelmente a condução do impulso
nervoso (Malamed et al., 2000).
Por ser a articaína uma solução anestésica lançada
no mercado brasileiro recentemente, o objetivo deste
estudo foi o de fazer um levantamento bibliográfico
sobre suas propriedades a 4%, além de compará-la
clinicamente com a prilocaína a 3%, solução
anestésica pertencente também ao grupo amida e bem
conhecida e utilizada no Brasil, em cirurgias para
remoção de terceiros molares superiores e inferiores
semi-retidos, quanto ao tempo de latência, número de
tubetes administrados, dose, duração da cirurgia,
duração do efeito da anestesia e consumo total de
analgésicos pós-operatório, além de verificar a
presença de possíveis efeitos colaterais.
Material e métodos
Foram realizados 21 procedimentos cirúrgicos em
13 indivíduos, sendo 5 mulheres e 8 homens. A idade
média dos pacientes foi de 22 anos, sendo que a
menor idade foi 16 e a maior, 32. Todos os pacientes
submetidos à cirurgia apresentavam indicação para a
remoção dos terceiros molares superiores e inferiores
em posições de não-irrompimento similares
(mesioangular). Como critério de seleção dos
participantes, os mesmos não deveriam estar usando
qualquer tipo de medicamento e também não
apresentar contra-indicação alguma ao antiinflamatório
Dexametasona ou a soluções anestésicas
utilizadas.
Os pacientes selecionados receberam, como prémedicação,
1 (um) comprimido de dexametasona
(Decadron 4 mg - Prodome Química e
Farmacêutica Ltda, Campinas, Estado de São Paulo,
Brasil), uma hora antes do procedimento cirúrgico.
Momentos antes do início de cada cirurgia, os
participantes realizaram bochechos com solução de
clorexidina a 0,12%, durante 1 minuto. A anti-sepsia
facial foi realizada com sabonete líquido de
clorexidina a 4%. Em 8 cirurgias, foram
administradas articaína a 4% com adrenalina
1:100.000 (Articaine – Dfl Indústria e Comércio
Ltda, Rio de Janeiro-RJ, Brasil) e em 13 cirurgias
cloridrato de prilocaína a 3% com 0,03 UI de
felipressina (Prilonest – DFL Indústria e Comércio
Ltda, Rio de Janeiro-RJ, Brasil). Após a anestesia, um
auxiliar registrou, em formulário, os valores do tempo
de latência e o horário em que o paciente estava
completamente anestesiado, condição essa em que era
permitido introduzir o descolador de Molt em toda a
extensão do sulco gengival até a crista óssea. Foi
registrado também o início da cirurgia. A mesma se
iniciou com uma incisão intra-sulcular e uma
secundária ou relaxante, descolamento do periósteo
(retalho total), ostectomia seguida de odontossecção.
Os dentes foram removidos com extratores. Foram
tomados também os devidos cuidados com o alvéolo,
como a remoção do folículo pericoronário, limagem e
regularização das bordas e remoção de possíveis
espículas. Todos os procedimentos cirúrgicos foramrealizados pelo mesmo operador e esse acompanhado
pelo mesmo auxiliar.
Após a cirurgia, os indivíduos receberam
instruções de cuidados pós-cirúrgico, como dieta
adequada, compressa fria nas 12 primeiras horas,
repouso e uso de analgésico, dipirona 500 mg (35
gotas), no máximo de 1 g de 6/6h, na vigência de dor,
iniciando seu uso a partir do término do efeito do
anestésico e nos primeiros sintomas de dor. Os
pacientes também foram orientados quanto ao devido
preenchimento do formulário, como a hora do
término do efeito do anestésico, caracterizada pelo
retorno da sensibilidade normal da região do dente
envolvido, a quantidade de analgésico consumida por
dia, além de possíveis ocorrências de efeitos
colaterais.
Os dados referentes ao número de tubetes,
duração da cirurgia, duração do efeito do anestésico e
consumo total de analgésicos pós-operatório foram
analisados utilizando-se a análise de variância
multivariada (Manova), para comparar vetores de
médias para ambos os anestésicos. Poder-se-ia
comparar os tratamentos (anestésicos)
individualmente para cada variável descrita acima,
entretanto pôde-se observar uma certa correlação
entre as variáveis observadas, sendo a análise de
variância multivariada a mais apropriada.

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